No dia 19 de outubro de 1968, precisamente um sábado, em frente ao mais importante símbolo de Barbacena, a Matriz de Nossa Senhora da Piedade, a população da cidade, população da cidade, bem como visitantes, testemunhou a coroação da primeira Rainha das Rosas de Barbacena.
Das mãos do então prefeito, Simão Tamm Bias Fortes, a jovem carioca Mariane Mota Pacheco recebeu, entre aplausos, a primeira Coroa das Rosas, dando início a uma das mais tradicionais celebrações da cidade: a eleição e coroação da Rainha das Rosas e Flores, que em 2018 completou 50 anos de realização.
Mariane tinha 16 anos, e muito tímida, recebeu o convite para participar da eleição da Rainha dos Estudantes, concurso realizado entre os principais colégios da época. Após muita conversa e pedidos de amigos, a jovem, filha de um oficial da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), aceitou representar o Colégio Estadual “Professor Soares Ferreira”, sendo eleita a mais bela das discentes e levando a coroa de Soberana dos Estudantes. O que Mariane não imaginava, era que naquele mesmo ano, o prefeito de Barbacena, juntamente com a Diretora do Departamento de Turismo da Cidade, Doutora Isar Bias Fortes, davam início à realização da “Festa das Flores”, evento que fazia parte da 1ª Exposição Regional Agropecuária e Industrial, e que os planos envolviam a eleição de uma Rainha das Flores, sendo a mesma a jovem eleita como Rainha dos Estudantes naquele ano.
Depois de ser coroada Rainha dos Estudantes, Mariane recebeu a notícia de que também seria eleita a Rainha das Rosas do próprio Simão Tamm Bias Fortes, amigo pessoal de seu pai que, aliás, somente permitiu que a filha participasse do evento por ser um pedido do próprio prefeito de Barbacena. Mariane, em um primeiro momento, não queria a coroa, mas acabou aceitando o convite do prefeito com uma condição: que as outras candidatas que tivessem interesse em concorrer ao título, pudessem disputá-lo através da venda de uma rifa filantrópica que iria beneficiar alguma instituição social da cidade. Com o aval do prefeito, a rifa foi realizada, e por intensa ação da mãe e amigos de Mariane, ela acabou sendo a candidata com o maior número de votos vendidos, automaticamente se confirmando como a Rainha das Rosas..
Dessa forma, após a bênção das flores, Mariane foi coroada em uma Praça dos Andradas atapetada com admiráveis desenhos decorativos feitos com 60 mil dúzias de flores, entre cravos, antúrios, palmas e, principalmente, rosas que, entre tantas figuras, também formavam as armas do município, assinados por Osmar de Souza Faria. Em seguida, a Rainha das Rosas desfilou em carro alegórico por um Centro florido, em uma programação que contou com a apresentação de fanfarras. Vale ressaltar, que a jovem Mariane, antes de ser coroada, foi uma das pessoas que passou a madrugada trabalhando na montagem dos belíssimos tapetes de flores.
A figura de Mariane Pacheco como a primeira Rainha das Rosas possui muito mais significado do que inicialmente aparenta. Assim como a produção de rosas, que não era nativa da cidade e sim trazida pelos imigrantes alemães e italianos, ela nasceu no Rio de Janeiro e veio para Barbacena por causa do pai, ligado à Epcar, instituição tão inserida na história e desenvolvimento da cidade. Aliás, o pai de Mariane, ao lado do italiano Ansano Loschi, foi um dos fundadores da Uniflor, primeira instituição a atuar em prol dos floricultores locais e que por diversos anos esteve ligada à realização da Festa das Rosas. Outro fator foi o vestido, que na época não possuía ainda as características do traje de camponesa. Para sua coroação Mariane utilizou de uma peça costurada com seda pura, produzida na cidade, remetendo à ligação que Barbacena já teve como um dos principais polos de produção sericícola do país.
Mesmo após mais de 50 anos, Mariane é uma das rainhas mais lembradas por todas as suas sucessoras. Além de ter sido a primeira jovem a ser coroada, ela participou de outras edições do evento como patronesse e como jurada. E para ela, que deu início à tradição, é importante que a festa mantenha sua realização, evitando o seu desaparecimento, lembrando que onde ela vai e diz que é de Barbacena as pessoas automaticamente remetem ao título de “Cidade das Rosas” e à grandiosidade da festa que marcou o município por anos.
Com o grande sucesso que o evento acabou por conquistar em 1968, a diretora Isar Bias Fortes e o prefeito Simão Tamm Bias Fortes inseriram a Festa das Flores no calendário municipal, devendo a mesma ter seu início no primeiro domingo de outubro de cada ano, reeditando a iniciativa que tinha ainda tem de divulgar a produção de flores e rosas da cidade. Mariane Mota Pacheco, a Rainha da “Flor da Civilização Mineira” (como o ex-ministro da Educação Gustavo Capanema cognominou Barbacena), tornou-se empresária e hoje divide sua estadia entre Barbacena e Rio de Janeiro.
Fonte: “O Reinado da Rosa: A História das Rainhas de Barbacena”, Isabella Paulucci & Thiago Rossi.