Considerada em 1988 pelo Jornal Diário de Pernambuco como a maior atração turística de Minas Gerais no mês de outubro, Barbacena dava início a realização da sua 21ª Festa das Rosas. Naquele ano, a Brasil Flowers e a Florândia Atibaia, duas das maiores floriculturas da cidade, estavam aumentando o seu comércio. A empresa alemã, que possuía uma produção mensal de 120 mil dúzias, 20% superior à produção do ano anterior, buscava aumentar em 50% a área plantada de 10 hectares.
Se por um lado, a produção de flores tendia a crescer, por outro os altos índices de inflação no país encareciam as rosas da cidade. Uma dúzia que em 1987 chegara a custar CZ$ 120, era vendida a CZ$ 800 e CZ$ 900, no segundo semestre de 1988, dependendo da qualidade. Apesar do alto valor, os produtores não conseguiam obter lucro, uma vez que as vendas haviam caído na proporção de quinze por um.
Mesmo não estando em seu momento mais propício ou de sorte, no que tange a comercialização de rosas e flores, a cidade se preparou para celebrar sua Festa das Rosas, que aconteceria entre os dias 7 e 9 de outubro. Dessa vez, o Clube de Dirigentes Lojistas (CDL) optou por inovar um dos pontos altos do evento. Naquele ano, o Baile das Rosas foi dividido em duas etapas: no dia 7, aconteceu o “Show das Rosas”, quando as 25 candidatas ao título de Rainha das Rosas desfilaram no Olympic Clube, em uma noite com apresentação do cantor carioca Cy Manfold. Naquele dia, a mesa julgadora depositou suas notas em um envelope lacrado, que só foi aberto na noite seguinte, sábado, no mesmo local, quando aconteceu de fato o Baile das Rosas com o show do conjunto Ed Bernardo, do Rio de Janeiro.
Entre as candidatas havia o murmurinho de que uma suposta festa já estava preparada para a coroação de certa favorita ao título, mas como o acaso tem suas artimanhas, sob o olhar atento da patronesse Vera Lúcia Allevato Sad, quis a sorte que a jovem Paula Rocha Ramos fosse eleita a Soberana das Rosas de 1988.
A barbacenense, então com seus 14 anos, já havia sido eleita, anteriormente, Broto e Garota Savassi (Paula era aluna da Escola Estadual Amilcar Savassi), e por sorte ou por acaso, acabou sendo convidada pelo Lions Clube para representar a instituição no concurso. A hoje odontóloga em Brasília (DF), lembra que entre as suas concorrentes ao título da coroa, havia uma para quem ela tinha pedido o contato da costureira para fazer o vestido, uma vez que na festa de debutantes essa menina vestia um traje que encantou Paula, no entanto, a sua rival nunca passou o nome ou endereço da modista.
Por sorte ou acaso, Iracema Rocha, a mãe de Paula optou por adquirir os tecidos em Belo Horizonte e deixar a elaboração do traje nas mãos de uma costureira vizinha da família. A então princesa questionou a matriarca sobre as tonalidades de roxo e lilás e sobre a ausência de brilho, e obteve a resposta “isso é alta costura minha filha”.
A Soberana, que por azar, não teve sua matéria jornalística publicada na imprensa por problemas na máquina de impressão, lembra que na época acabou virando Paula Rainha das Rosas e que na hora do anúncio de seu nome, uma senhora de nome Russa, que ela nunca havia visto na vida e que nem mesmo seus pais conheciam, vibrava efusivamente com o resultado, como se fosse da família ou quem sabe, como se fosse a própria sorte.
No domingo, no Parque de Exposições “Senador Bias Fortes”, o então prefeito Ronaldo Vaz de Melo coroava a única Rainha de seu curto mandato como Chefe do Executivo Municipal, que desfilou em carro alegórico, juntamente com suas princesas e a soberana do ano anterior em carros alegóricos pelo local, sendo aplaudida e contemplada por populares e turistas de todo o país. A festa foi encerrada com o show do conjunto MPB Samba Show.
A Rosa da Sorte e do Acaso, que tinha vários pontos contra para a conquista do título, possuía dois fatores primordiais e inoxidáveis, presentes até os dias de hoje: beleza e simpatia, elementos cruciais que, acompanhados de um belo sorriso, só tendem a trazer sorte a Paula Navarro.
Fonte: “O Reinado da Rosa: A História das Rainhas de Barbacena”, Isabella Paulucci & Thiago Rossi.