Os dias que antecederam a Festa das Rosas de 1972 trouxeram apreensão aos corações da população barbacenense. A instabilidade climática fez com que o medo de que tão tradicional evento fosse arruinado assolasse todos os moradores da cidade, desde aqueles que trabalharam e se dedicaram para sua realização, até aqueles que sempre apareciam para prestigiar o momento. No entanto, nos dias 21 e 22 de outubro de sua realização, um lindo sol brilhava sobre toda Barbacena, iluminando aquele céu azul que mais tarde serviria como plano de fundo para a coroação de Maria Dolores Chaves de Castro Santos Silveira.
Naquele ano, a Uniflor tinha 20 hectares produzindo rosas das mais variadas espécies, com previsão de aumento de 80% da plantação para o ano seguinte. A Alemanha, que anteriormente havia sido um dos principais fornecedores de rosas do mundo, assinou naquele ano um contrato entre a Agros GMBH, da cidade de Frankfurt, e a Associação de Floricultores Barbacenenses, para o envio das flores ao país. O acordo ficaria em 160 mil dólares.
De novembro a março de todo ano, a cidade vivia sua maior movimentação no setor, contudo a exportação do produto enfrentava problemas. O Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICM), que dentre todos os estados brasileiros era cobrado apenas aos floricultores em Minas Gerais, gerava prejuízos grandes à atividade. Todo o lucro obtido no período de exportação era gasto com o pagamento das taxas na fase em que os negócios são feitos apenas internamente. O produtor Francisco Ulmam, em expediente dirigido à Diretoria da Receita do Estado, pediu a isenção para os produtores. Os floricultores Mateus Leme e Vespasiano, fizeram a mesma solicitação ao Governo Mineiro, juntando notas fiscais oriundas de São Paulo como comprovação do dano causado.
Este, porém, não era o único problema enfrentado pela classe. Por se tratar de um produto perecível em prazo curto, havia também a necessidade de que as flores fossem colhidas e embaladas com agilidade para o embarque. Todavia, o processo de exportação era muito burocrático, de forma que o exportador, munido da guia de exportação, teria que viajar a Belo Horizonte (BH) para o fechamento do contrato de troca. Na medida que a autorização para o embarque fosse concedida, era necessário o deslocamento imediato para o Rio de Janeiro (RJ). Enquanto isso, o carro-frigorífico já havia deixado Barbacena com destino à Guanabara (atual Rio de Janeiro), onde aguardaria a chegada da documentação. Todo esse processo deveria ser feito em menos de 24h e as repartições tinham horários limitados de atendimento. Diversos botões de rosas foram perdidos antes do embarque devido a demora do fechamento do câmbio pela Carteira de Comércio Exterior (Cacex), segundo o deputado João Navarro. O mesmo encaminhou um apelo ao Ministro da Fazenda, Delfim Neto; ao presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost; e ao diretor da Cacex, Benedito da Fonseca Moreira, pedindo que se tornasse viável o processo de fechamento da troca e a liberação de documentos pela Cacex em Barbacena, na agência do Banco do Brasil.
Apesar de todas as adversidades, em outubro turistas de todas as partes do país chegavam para ver as belezas que a Cidade das Rosas tinha a oferecer, superlotando hotéis e hospedarias, uma vez que o município também os recebia para participar da “Semana da Asa”, evento promovido pela Epcar em comemoração ao Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira.
Em frente ao monumento do Governador Bias Fortes na Praça dos Andradas, estava armado um palanque de exuberante beleza, ornamentado de flores naturais, para figuras importantes como o Prefeito, o Brigadeiro e outras autoridades militares, civis, eclesiásticas, etc. Havia também um extenso tapete de pétalas de rosas de variadas cores, que se desdobrava desde o tablado até a frente do Automóvel Clube, evocando as bandeiras do Brasil, de Minas Gerais, de Barbacena e da Alemanha, que se encontravam hasteadas.
A missa festiva aconteceu na Matriz de Nossa Senhora da Piedade e o baile nos salões do Olympic Club. A Rainha das Rosas recebeu sua coroa das mãos do Prefeito Doutor João Lopes e também da primeira dama, senhora Ondina Lopes. Ao lado da soberana coroada em 1971, Gelta de Carvalho Câmara, e seguidas pelas respectivas princesas em trajes característicos, as garotas desfilaram em Opalas, cumprimentando e atirando rosas ao povo, que se amontoava pelas ruas principais.
A apresentação dos veículos também contou com uma demonstração sobre duas rodas, realizada pela equipe de Euclides Pinheiro, que atravessou o Brasil e o exterior divulgando o carro com manobras arriscadas. A multidão vibrava, de forma que nem os cordões de isolamento, os policiais e o perigo era capaz de contê-la na calçada. A exibição durou 30 minutos e um dos pilotos chegou a ficar de pé em cima do carro, segurando a bandeira nacional.
A fanfarra do Colégio Tiradentes da Polícia Militar e do Colégio Agrícola do município de Machado (MG) em seus uniformes manejava os instrumentos musicais entoando a trilha sonora para aquele momento tão singular.
Maria Dolores foi convidada a participar por uma amiga de seu pai, Antonio Carlos de Castro Santos. Por ele ser dentista, ela representou a Associação Odontológica e se lembra de Barbacena de maneira carinhosa. Nascida e criada na capital mineira, mas com um pai barbacenense, ela e a família sempre visitavam a cidade nos finais de semana, participando de comemorações como o Carnaval, o Baile das Debutantes e também o Baile das Rosas. Sua eleição foi motivo de orgulho para o pai, de quem ela seguiu os passos ao se formar em Odontologia. Ela trabalhou na Secretaria de Estado de Saúde e atualmente é aposentada. Viúva, mãe de um casal de filhos e com um único neto, ela ainda vive em sua cidade natal, onde conta aos seus familiares sobre a Festa das Rosas, ocasião em que resplandecia tal qual o sol, iluminando a cidade com sua graça, carisma, beleza e simpatia.
Fonte: “O Reinado da Rosa: A História das Rainhas de Barbacena”, Isabella Paulucci & Thiago Rossi.