Imagine estar um dia em sala de aula e a diretora, de repente, entra em sua sala e se direcione para a classe, informando que a escola iria eleger naquele mesmo dia, de forma imediata, uma representante da instituição no concurso da Rainha das Rosas. Entre risos, você e suas amigas apontam umas para as outras, indicando que elas ou você seria a escolhida e, após uma votação por meio de papéis dobrados, seu nome fosse o indicado. Pois bem, foi mais ou menos assim que começou a trajetória da Soberana das Rosas de 1973, Luiza Helena Vieira.
A diretora da Escola “Estadual Embaixador José Bonifácio”, a senhora Graciema F. Guimarães Bertoletti, estava decidida em ter uma representante do colégio na 6ª edição do concurso para eleição da Rainha das Rosas. Após cada sala escolher uma aluna, um desfile foi realizado no pátio com as selecionadas e uma outra eleição envolvendo todo o corpo discente optou por Luiza como a embaixadora da Escola Normal no evento mais icônico da Festa das Rosas. Fato interessante, é que a jovem Luiza, então com 17 anos, havia disputado o concurso para Rainha do Colégio, mas não conseguiu a coroa, ficando apenas com a faixa de princesa.
No ano em que a cidade exportou mais de dois milhões de botões de rosas para os Estados Unidos, Itália, Inglaterra e Alemanha, a família e amigos de Luiza Vieira se dedicaram a ajudar a estudante, que nunca havia participado, nem mesmo como espectadora, de nenhuma edição da festa e que não se considerava tão bonita para concorrer com as outras 22 belas representantes das demais escolas e clubes de serviços da cidade.
No dia 13 de outubro, um grandioso Baile das Rosas, com a presença da banda Peter Thomas da TV Tupi, foi realizado no salão de festas do Clube Barbacenense, organizado pela Uniflor, Clube dos Diretores Lojistas e Prefeitura Municipal. Segundo Luiza, após a apresentação e desfile das concorrentes à coroa, começaram a distribuição dos títulos de princesas e não ouvir seu nome acabou a chateando, uma vez que não acreditando na possibilidade de ser eleita Rainha, ela esperava ao menos figurar entre algumas das principais princesas da festa. Sentada à sua mesa, junto da família, Luiza disse que não entendeu “o que queriam com ela”, quando anunciaram seu nome, e foi um momento de muita emoção ao se dar conta que aquela era a nomeação da Rainha das Rosas de 1973.
O capítulo de Luiza, dentro da história das Rainhas das Rosas, assemelha-se ao conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, “O Patinho Feio”, isso por que a jovem estudante da Escola Normal não acreditava na sua própria beleza. Além disso, no próprio Baile das Rosas, a família de Luiza estava convicta que o concurso já tinha uma escolhida dentre as jovens da alta sociedade. Outro ponto que influenciava nas expectativas, era que a Escola Estadual “Embaixador José Bonifácio” era considerada uma instituição de pessoas mais humildes, e por isso, não teria chances em um evento com uma representatividade tão grande da sociedade.
Às 10h30 do dia seguinte, em palanque montado no Centro de Barbacena, diante do povo, turistas e diversas autoridades que se fizeram presentes ao evento, o então prefeito José Eugênio Dutra Câmara e o presidente da Uniflor, Ansano Loschi, coroaram Luiza Helena Vieira, que apesar de ser a sexta jovem eleita como a Rainha das Rosas de Barbacena, era apenas a segunda nascida de fato na cidade. Além da coroa, a Rainha de 1973 recebeu a faixa de sua antecessora, a Rainha de 1972, Maria Dolores Silveira. Logo em seguida, como de costume, a soberana e as princesas desfilaram em carros alegóricos ornamentados pelos floricultores da Uniflor, pelo Centro da cidade.
Sobrinha do jornalista Manoel Caldas, famoso repórter da Rádio Correio da Serra, Luiza revelou que até o momento da coroação o tio não sabia a identidade da Rainha. O radialista sabia apenas que iria entrevistar a nova dona do título e que o mesmo se emocionou ao ver a jovem camponesa como majestade das flores.
A coroa rendeu cartas e poemas de diversos rapazes da cidade, além de convites e oportunidades de representar Barbacena através da figura da Rainha das Rosas. Além disso, Luiza frisa que se tornar soberana ajudou a elevar sua autoestima, a fazendo sentir uma pessoa muito especial e principalmente bonita e confiante em todas as suas capacidades.
Anos depois, enquanto trabalhava na ABAE, Luiza se apaixonou por um amigo americano, que também atuava na instituição de ensino especial como assistente social. Após se casarem, ambos se mudaram para os Estados Unidos, e a Rainha de 73 acabou fazendo como as flores de Barbacena e ganhando o mundo. No país norte-americano ela terminou o curso superior em psicologia, que havia dado início ainda no Brasil, e atuou por dez anos no tratamento de doenças mentais, hoje trabalhando com pessoas com problemas neurológicos e que necessitam de reabilitação física.
Ainda vivendo no estado americano da Califórnia, Luiza se orgulha da coroa e da cidade onde nasceu e faz questão de mostrar a todos que visitam sua casa as diversas fotos do seu reinado, contando sempre a fama de Barbacena e suas rosas. Assim como o personagem do conto de Hans Christian Andersen, Luiza Vieira acabou se descobrindo um belo cisne e a rosa mais linda de 1973.
Fonte: “O Reinado da Rosa: A História das Rainhas de Barbacena”, Isabella Paulucci & Thiago Rossi.