As pedras preciosas, além de sua beleza e raridade, sempre foram conhecidas em muitas culturas por seus significados, sendo também associadas a meses do ano, uma tradição que tem origem nos tempos bíblicos. Nas passagens do livro, é relatado que Arão, o primeiro líder dos sacerdotes hebreus, carregava em seu peitoral doze pedras, cada uma representando uma das tribos de Israel. Com o passar do tempo, diversas culturas adotaram a ideia de atribuir significados para cada uma dessas jóias. Visando padronizar uma seleção de pedras de aniversário, no ano de 1912 a Jewelers Of America, associação comercial de profissionais da indústria de jóias dos Estados Unidos, criou uma lista e o padrão foi seguido ao redor do mundo.
O ano era 1978 e a Festa das Rosas de Barbacena completava a sua primeira década de existência. Simbolizada assim, pela esmeralda, a comemoração de uma década trazia, juntamente com o significado da pedra, toda a sorte e proteção contra os empecilhos, além de prosperidade, felicidade e amor… amor por uma cidade, por uma cultura e também por um evento capaz de marcar a história de tantas pessoas, se consolidando e perdurando por mais tantas outras décadas.
A consideração pela celebração foi colocada à prova naquela edição, quando a Câmara Municipal de Barbacena não aprovou verbas para sua realização. A Prefeitura então recorreu às casas bancárias, à Coca-Cola e ao comércio local, movimentando todo o município na arrecadação de fundos e assim impedindo o cancelamento da festividade incluída no calendário turístico da EMBRATUR — atual Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo.
A Festa teve início no dia 13 de outubro e ocorreu no Parque de Exposição “Senador Bias Fortes”, com a abertura oficial das barracas do NICS, Rotary Monte Mário, Rotary Barbacena e Lions Club, além da grande novidade na programação, a Feira de Artesanato da Mantiqueira, composta por trabalhos dos artesãos da região. São João del-Rei foi representada pelos objetos expostos feitos de estanho e madeira, enquanto bijuterias de prata e cobre diretamente de Tiradentes também compunham a mostra. Tapetes, pinturas, bordados, trabalhos em linhas, peças em sisal, e os mais variados exemplares permaneceram em evidência durante todos os dias de realização do evento. Também ocorreu a apresentação de uma seresta, como é conhecida a serenata brasileira, e mais tarde, foi celebrada na Uniflor a missa, que contou com a presença do prefeito Vicente Araújo, do secretário de turismo, Dr. Francisco Correa Duarte, e dos demais secretários municipais, além de várias outras autoridades, entre elas o brigadeiro Godofredo Pereira dos Passos, Comandante da Epcar.
Naquele ano, mais de 5 mil turistas vieram conhecer as belezas das rosas barbacenenses, com maior movimentação no segundo dia, com a participação da população e também das pessoas que chegavam de diversos pontos do país. As barracas, completamente tomadas, marcaram o dia em que dentre as 26 candidatas foi eleita a nova Rainha das Rosas, a jovem de 18 anos nascida em Recife, Soraya Souto Maior.
No domingo foram encerradas as festividades fazendo parte da programação do último dia o desfile de carros alegóricos, responsáveis por conduzir todas as princesas e a Soberana, juntamente com sua antecessora, Valéria Ayres. A cerimônia recebeu um brilho especial quando as pétalas de rosas começaram a cair do céu sobre as garotas da realeza e seus súditos.
Naquele dia, o prefeito colocou a coroa na cabeça da nascida no local que surgiu como “Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios” e posteriormente ele dirigiu algumas palavras aos presentes, agradecendo aos que colaboraram com a festa e manifestando a certeza de que a nova Rainha das Rosas teria um belo e marcante reinado. Em seguida, apresentou-se o grupo folclórico “Gil Vicente”, de Belo Horizonte, com bonitas danças portuguesas. Encerrando as demonstrações, ocorreu também o desfile da banda marcial da escola técnica “Pandia Calogeras”, de Volta Redonda, com cerca de 150 componentes sob o comando de seu vice-diretor, o engenheiro Ivan Roberto Marques. Toda a banda e seus dirigentes foram recebidos pela Epcar em suas dependências durante sua estadia e o Parque de Exposições permaneceu movimentado durante toda a noite, com as barracas expondo suas variadas especiarias.
Soraya Souto Maior foi eleita a Rainha do Colégio Aplicação e então recebeu o convite para representar a instituição na Festa das Flores. De sua cidade natal, ela se mudou para São Paulo e logo depois fez de Barbacena o seu lar quando, ainda pequena, após seu pai, o militar da aeronáutica Everaldo Souto Maior, ser transferido para atuar na Epcar. Em seu reino, ela viveu por muitos anos, chegando a se casar e a fazer deste o local de nascimento de seus três filhos.
Dizem que o lar é onde o coração está e no seu, a Soberana das Rosas de 1978 carrega um pouco de cada região em que esteve. Com descendência portuguesa e espanhola, atualmente Soraya vive em Roraima, em uma área indígena chamada Pacaraima, localizada na fronteira entre o país e a Venezuela. Professora, ela desempenha o nobre trabalho de alfabetização dos estrangeiros que chegam ao Brasil.
Legenda: “A escolhida para suceder Valéria Ayres, a jovem Soraya Souto Maior, que sob aplausos de todos recebeu o resultado com humildade e muita emoção, sendo cumprimentada por todos os componentes do júri, presidido pela senhora Lucy Berenguer Gomes, e por todas as concorrentes que demonstraram carinho e apoio à nova rainha.” - Jornal Correio da Serra, 19 de outubro de 1978
Pai - Everaldo Souto Maior
Mãe - Zayda Souto Maior
Data de nascimento - 30/ 04/ 60
Fonte: “O Reinado da Rosa: A História das Rainhas de Barbacena”, Isabella Paulucci & Thiago Rossi.